SEXO NA TERCEIRA IDADE – REPRESSÃO E PADRONIZAÇÃO DO PRAZER SÃO O CAMINHO CERTO?
Ao falarmos sobre a sexualidade do ser
humano na terceira idade, muitos se questionaram: “mas velhos pensam em sexo?
Velhos fazem sexo? Isso não é imoral? Eles não deveriam se adequar a idade que
possuem e parar de pensar nessas coisas?”
Para responder a esses questionamentos
fizemos algumas reflexões sobre os atuais estudos sobre o assunto.
Diversos autores da atualidade nos falam
sobre o assunto dentro de textos de Geriatria e Gerontologia, buscando uma
discussão crítica do tema que leve a uma nova concepção, mais consentânea, da
sexualidade nesta fase da existência do indivíduo, que cada vez mais tem sua
expectativa de vida aumentada.
Duas teses são discutidas, ou seja, a
Teoria do Desengajamento ou Desvinculação e a Teoria da Atividade.
A teoria do Desengajamento ou
Desvinculação defende que o indivíduo faça seu afastamento gradual, conforme o
envelhecer, das atividades rotineiras e habituais que ele exercia. Já a Teoria
da Atividade se posiciona pela não inatividade do indivíduo, devendo este
manter-se ativo, ficando o mais próximo dos seus vínculos sociais, pelo maior
tempo possível.
A primeira das teorias tem como
consequência uma regulação da vida dos indivíduos, reprimindo, através de
conceitos aceitos socialmente, a sexualidade na terceira idade. Ela daria
respaldo ao pensamento de que o sexo é para juventude ativa e para corpos
jovens e saudáveis, devendo os “velhos” se desengajarem ou desvincularem de
tais práticas. Os indivíduos que permanecem exercendo sua sexualidade nessa
faixa etária seriam vistos como desvirtuadores da prática sexual aceita pela
sociedade que dita quais as formas de sexo são as corretas, quando e onde devem
acontecer.
Por outro lado, a segunda teoria,
teria a desvantagem de exigir dos idosos uma “sempre atividade” como uma
condição indispensável para a manutenção da boa saúde e de um processo de
envelhecimento mais saudável. Pode haver a tendência de se partir de um pólo de
repressão a uma cobrança da manutenção da atividade sexual para os idosos. Sexo
não seria mais um elemento de prazer e satisfação pessoal, mas uma condição de
se manter a boa saúde física, mental e emocional.
Na terceira idade, tal como nas demais
faixas etárias, o indivíduo é parte de uma sociedade que tem seus conceitos e
valores sobre a sexualidade. A sexualidade, em outras palavras, não é apenas
uma expressão fisiológica do organismo humano, mas, antes de tudo, uma
construção social e psicológica, na razão em que, por ser uma sociedade
capitalista e consumista, o sexo, bem como outros comportamentos dos indivíduos,
precisão ser regulados e controlados. Esse controle existe de forma muito
disfarçada, estando ligado, hoje, a uma medicalização de todos os comportamentos
“não socialmente aceitos” enquadrados como “patologias”.
Nesse contexto, o indivíduo da
terceira idade é visto como alguém que “precisa ser tratado” como se a velhice
fosse uma doença. Por não estar mais inserido nesse mercado de trabalho, por
não oferecer mais a juventude que a presente sociedade exige, através de seus
padrões estabelecidos de beleza, a velhice seria uma “doença”, que deverá ser
tratada, medicalizada e, em muitos casos, confinada em instituições asilares.
Se a velhice é uma condição de doença,
o sexo, que no contexto social é prática de pessoas saudáveis e jovens, não
poderá ocorrer na última fase da vida. Ser velho implicaria em uma
desvinculação do sexo.
Sabemos ainda que, por outro lado, um
novo olhar da gerontologia, bem como da geriatria começa a despontar sobre esse
assunto. O velho passa então a ser interpretado como alguém que precisa se
manter ativo, inclusive na questão da atividade sexual. Pílulas foram criadas
para medicalizar os efeitos da idade sobre as funções sexuais (ereções) dos homens
idosos. Cremes vendidos para facilitar a perda de lubrificação vaginal das
mulheres na terceira idade. É ainda o tratamento, ou melhor, a regularização da
sexualidade, dizendo qual a melhor forma de exercício da mesma.
A sexualidade do ser humano, em todas
as faixas etárias, deve ser vivida de acordo com seus desejos e contexto
pessoal, não devendo ser padronizados tipos ideais de relacionamentos ou
práticas sexuais pela sociedade, salvo quando essas práticas coloquem em risco
a integridade física e psicologia de outros, como, por exemplo, a pedofilia.
Na terceira idade é importante dar ao
indivíduo a oportunidade de exercer, ou não, sua sexualidade, da forma que ele
sempre exerceu e que lhe dá prazer. Necessário se faz a desconstrução da idéia
de que “sexo é para jovens” e ampliar a noção de ato sexual, deixando de
genitaliza-lo para torná-lo parte de um conjunto maior que pode ser
representado pelos sentimentos e ações de afeto, carinho, companheirismo,
carícias e outros mais gestos típicos que caracterizam nossa espécie humana.
Autor:
Charles José da Silva – Psicólogo Clínico
– CRP: 05/47.134
Referências
SILVA, Viviane Xavier de
Lima & MARQUES, Ana Paula de Oliveira & LYRA-DA-FONSECA, Jorge Luiz
Cardoso. Artigo: Considerações sobre a sexualidade dos idosos nos textos
gerontológicos. Rev. Bras. Geriatr. Gerontol., 2009; 12(2): 295-303;
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