3ª IDADE: UMA VISÃO PSICOLÓGICA DO FILME “AS CONFISSÕES DE SMITH”
O filme “Confissões de
Smith”, com o ator Jack Nicholson interpretando o papel de um homem em
transição para terceira idade, apresenta todos os requisitos que por hora
necessitamos para discutir a passagem do sujeito para a 3ª idade.
É possível, através deste filme, identificar
os principais pontos ressaltados nas abordagens teóricas sobre o processo de
envelhecimento e a passagem da idade adulta (meia idade) para a denominada
terceira idade.
Smith, um americano de meia idade,
formado em estatística e trabalhando a vida toda em uma empresa de seguros, aposenta-se
e é obrigado a se adaptar a sua nova condição de vida, enfrentando uma rotina
diferenciada daquela que por anos teve.
Ao assistir um programa de televisão,
Smith acaba engajando-se num programa de ajuda humanitária a órfãos de países
Africanos, enviando certa quantia e uma carta mensal a um garoto de seis anos.
Nessas cartas Smith desabafa suas inseguranças e medos, bem como sua raiva e
frustração pelo estilo de vida adotado por ele até então. Narra seus conflitos
com a esposa e o quanto os hábitos dela o sufocam, contando todas as suas experiências
de vida nas cartas.
Esse fato representa a tentativa de
criar um testamento moral além de tentar dar um significado para sua vida. Bem
mais do que um simples desabafo, Smith tenta se imortalizar através de suas
confissões ao pequeno africano órfão. Essas cartas o levam a uma reavaliação de
todo seu estilo de vida e uma consequente preparação para os anos vindouros da
terceira idade.
Fazendo um paralelo com o estudo da
psicologia da maturidade, vemos que Smith personifica a entrada dos indivíduos
na terceira idade. Isso fica claro pelo fato dele ter uma filha adulta que já
não mora em sua casa e não depende financeiramente de sua ajuda. Esta, prestes
a se casar. Além desse marco contextual, podemos frisar mais três outros: o
fato de sua carreira como estatístico de uma firma de seguros estar terminando
com a aposentadoria; estar sozinho em casa apenas com a esposa; e por fim, a morte
da esposa logo no início de sua aposentadoria.
Após estes fatos na vida de Smith, que
demarcariam sua entrada definitiva na terceira idade, vemos sua busca por uma
ressignificação de vida, uma luta por um significado existencial
ao tentar uma reaproximação de sua filha.
Essa tentativa pelo resgate do afeto
do passado acontece após a morte de sua esposa e o despertar de um sentimento
de solidão. Smith precisava, desesperadamente dar sentido à sua vida.
Aposentado, viúvo e com uma rede de
apoio social (amigos) muito restrita, contando somente com a filha como única
pessoa da família, Smith se deixa abater no primeiro momento, entrando num
breve processo de depressão. Esse tipo de depressão é responsável pelos altos índices
de mortes após a aposentadoria, estando os homens viúvos mais sujeitos a morte
em poucos anos depois do encerramento de suas carreiras profissionais.
Smith busca então uma forma de vida
desafiadora para pessoas de mais idade. Entra em seu trailler e começa viajar
por diversas cidades para depois chegar ao casamento de sua filha.
A busca de novos contextos foi
importante para a superação da traição de sua esposa com seu melhor amigo, fato
esse que ele descobriu ao vasculhar as coisas dela após sua morte. Esse fato
nos possibilita ver o quanto Smith se sentiu traído, mas ainda revela que mesmo
mediante a impossibilidade de se sentir pertencente a um círculo de apoio
emocional, foi capaz de fazer as pazes com a memória da esposa, pedindo perdão
e perdoando-a por não tê-lo amado como ele achava que ela o amava. Essa cena foi
muito bem representada pelo ator, quando o personagem conversa com a
individualidade da esposa morta em cima de seu trailler.
Na análise desse material
cinematográfico, podemos destacar a sexualidade de Smith que, mesmo abalada
pelo sentimento de rejeição e traição da esposa, ainda permanece de forma
latente. Esse fato é demonstrado quando Smith é convidado por um casal de
jovens adultos a jantar em seu trailler. Smith, em um momento de fragilidade
emocional, quando apoiado em sua catarse, recosta-se nos seios da senhora cujo
marido se ausentou para comprar cervejas, passando então a beijá-la, ato esse
que foi prontamente rechaçado por ela.
Ao estudarmos o processo de
envelhecimento, descobrimos que a sexualidade humana mantém-se ativa e constitui
parte importante na vida das pessoas saudáveis. Não havendo problemas crônicos
de saúde tais como diabetes, má circulação sanguínea e problemas cardíacos
entre outros, uma pessoa mantém suas funções sexuais ativas por toda a vida.
Outra importante questão, mostrada no
filme, foi quando o personagem Smith entra em contato com os familiares de seu
genro. A princípio ele fica muito relutante com aqueles estranhos e seus hábitos
de vidas. Logo depois, ele acaba se adaptando e formando uma nova rede social
de apoio. A importância de tal fato, se dá por sua significação na vida do
personagem que agora pode se sentir pertencente a um grupo social, dando a ele
a dimensão de sua importância para aquelas pessoas que o acolheram tão bem.
Como Smith, as pessoas da terceira
idade precisam se sentir pertencentes a uma rede social de amigos e parentes
que os apóiem em suas dificuldades e conflitos, ainda mais se forem dependentes
de cuidados físicos e psíquicos.
Ao término dessa análise crítica,
frisamos a importância de ferramentas didáticas, como o filme analisado, para a
construção do conhecimento dentro de todo o estudo do processo do envelhecimento.
Dessa forma, poderemos ver na prática, como todas as teorias psicológicas podem
funcionar e como esses conhecimentos adquiridos e passados pelos grandes
teóricos, poderão auxiliar a compreensão dos sentimentos originados nessa fase
da vida que foi denominada como terceira idade.
Autor: Charles José da Silva - Psicólogo Clínico - CRP: 05/47.134
Site: www.vidaplenapsicologia.com
Autor: Charles José da Silva - Psicólogo Clínico - CRP: 05/47.134
Site: www.vidaplenapsicologia.com
Assista ao filme “As Confissões de Schmidt” no link abaixo:
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